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domingo, 4 de setembro de 2011

E ela fez de novo



Já era de manhã e ela sentia como se não tivesse dormido. Sua cabeça latejava, seus olhos estavam inchados e a maquiagem borrada. Não tinha ninguém em casa, apesar de ela ter certeza de não ter passado a noite sozinha. Nunca passava. Sentou-se na cama, a cabeça doendo cada vez mais. Parecia que a noite anterior tinha sido boa. Calçou a pantufa de coelhinho e desceu as escadas silenciosamente. Na cozinha, pilhas de louça suja na pia. Na sala, almofadas jogadas por todos os lados e peças de roupa espalhadas pelo chão. Tudo parecia bem normal apesar da bagunça.

A camiseta que vestia, uns cinco números maior, estava manchada. Não havia nenhum carro na rua ou na garagem, além do seu próprio. Uma maletinha preta estava encostada na parede branca descascada. Com certeza aquela não era sua. Ao abri-la encontrou apenas uma muda de roupas. De quem era aquilo? Um ronco vindo do seu estômago atrapalhou seus pensamentos. Não tinha percebido, mas estava faminta. Caminhou até a cozinha, as orelhas da sua pantufa de coelho balançando de um jeito bem irritante. Pegou uma tigela e encheu de cereal e leite. Enquanto comia resolveu fazer um tour pela sua própria casa. Os outros cômodos estavam na mesma situação. Isso não a surpreendia, não era muito organizada.

Colocou a tigela suja junto com o resto da louça. Ela não ia lavar aquilo. Subiu de volta para seu quarto e sentou-se na cama. Sua cabeça já não latejava mais, graças a deus. Agarrou seu ursinho de pelúcia - sim, ela ainda tinha um - e, pela milésima vez, reclamou estar cansada de ter sempre alguém diferente, de nem ao menos saber se esse alguém estaria lá quando ela acordasse. Mais uma vez prometeu mudar, mas parecia estar tentando convencer a si mesma de que era capaz. Após alguns minutos, a casa em total silêncio, levantou-se. Precisava se animar. Tomou um banho quente, arrumou-se e foi parar na primeira festa que achou. A última coisa que lembra foi de ter bebido tudo que tinha direito.

Acordou em casa, deitada na cama com lençol de listras azuis. Odiava aquele lençol. Sua cabeça latejava mais que no dia anterior. Ao levantar-se, viu que ao seu lado dormia um rapaz moreno, bonito. Um rosto novo. É, ela havia feito de novo.

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